O panelaço machista da elite?

Vendo a repercussão sobre o panelaço de ontem em resposta ao pronunciamento de Dilma, percebi alguns padrões: para o PT, o panelaço foi “financiado pela oposição”; para outros, foi obra de uma elite.  Outros ainda afirmaram que durante o panelaço, “a maioria das pessoas” havia proferido xingamentos machistas contra a presidente. Vi até quem dissesse que não seria correto criticar uma mulher no dia internacional da Mulher.  Pois bem, vamos a alguns fatos.

O panelaço seria financiado pela oposição?

Não existe qualquer evidência de que a população tenha recebido dinheiro para bater panelas. Pelo contrário, o panelaço foi organizado pelas redes sociais. Se os criadores do evento receberam dinheiro, é algo que seria muito difícil provar, mas o fato é que inúmeras pessoas compartilharam uma mensagem via WhatsApp e outras plataformas que dizia:

Hoje,às 20:40 hs, PANELAÇO NAS JANELAS, no momento do pronunciamento da presidente Dilma em rede nacional em comemoração ao dia internacional da Mulher, oportunidade em que defenderá o governo e lançará um pacote anti-corrupção. Vamos todos para as janelas e vaiar muito. Tb vale disparar alarmes de casas e carros! Passe adiante.

Em outras palavras, as pessoas aderiram ao evento voluntariamente, e o fato de seus idealizadores terem ou não recebido dinheiro de algum partido de oposição é completamente irrelevante.

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/brasil/o-panelaco-e-o-whatsapp/

O panelaço foi obra de uma elite? A maioria das pessoas xingou a presidente?

A jornalista Rosane de Oliveira, do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em tom de brincadeira, perguntou em seu twitter se o panelaço havia sido feito com panelas Le Creuset, ou Tramontina? Já que os relatos afirmavam que os panelaços ocorreram em regiões de renda mais alta.

O fato é que a marca da panela, ou a classe social de quem bate não faz a menor diferença. O fato é que existe uma parcela significativa da população que está descontente com o atual governo.

No entanto, vejamos os resultados desta pesquisa, segundo o ótimo blog O Antagonista, a partir de dados coletados no Twitter, uma rede social utilizada por pessoas das mais variadas classes sociais:

O PT disse que os protestos de ontem à noite foram um fracasso.

A realidade é outra.

O harakiri de Dilma Rousseff, em cadeia nacional de TV, foi medido pela Esentia, empresa de análise digital.

De 185.487 mensagens sobre a presidente, publicadas nas redes sociais durante ou imediatamente depois de seu pronunciamento, 80% foram negativas e 19% foram positivas.

Do total, 54,1% pediram a renúncia da presidente ou seu impeachment. Outras 10,3% a chamaram de mentirosa ou falsa. Só 3,3% partiram para o xingamento.

O hashtag #VaiaDilma, no Twitter, foi o mais difundido no mundo todo. Isso mesmo: no mundo todo.

O diretor da Esentia, Gustavo Ramos, comentou:

“O episódio deste domingo nos surpreendeu muito. Literalmente em tempo real, com segundos de pronunciamento, uma avalanche de dados gerados por posts contendo imagens, áudios e, principalmente vídeos, tomaram conta de nossas ferramentas de monitoramento.

Para a maioria, a fala da Presidente foi “a gota d’água”. Em nossa avaliação, o fenômeno aguçou os ânimos para as já alardeadas manifestações contra o governo federal e a Presidente no dia 15 de março”.

 

É errado criticar uma governante mulher no dia internacional da mulher?

De tudo o que ouvi sobre o protesto, no entanto, o mais surreal foi a afirmação de que “aproveitar” para criticar a Dilma no dia internacional da mulher era machismo. Eu discordo frontalmente desta afirmação: governantes são pessoas públicas e estão sujeitos a críticas.

Aqueles que dizem que ela não pode ser criticada apenas por ser mulher ou são machistas enrustidos, ou não entendem o que significa igualdade de gênero. Igualdade não é ter vantagens iguais. Igualdade é ter vantagens e desvantagens iguais.

É óbvio que existe gente machista, que chamou a presidente de “vagabunda”, entre outros termos, mas estes são, conforme a pesquisa da Esentia, uma minoria pouco significativa diante da grande maioria que criticou a presidente com termos menos exaltados, enquanto a grande maioria criticava atitudes ou o caráter da presidente, e não apenas a ofendia.

Conclusão

Fica claro que:

  1. Os indivíduos que bateram panela não foram financiados pela oposição.
  2. O panelaço não foi obra de uma elite, e sim de uma parcela significativa da população que tem acesso à internet e mora em grandes centros urbanos. Estas pessoas, segundo o próprio PT, que se gaba de ter alavancado a inclusão digital, não são uma “elite branca de olhos azuis”.
  3. Os xingamentos foram feitos por apenas 3,3% das pessoas.
  4. Governantes são pessoas públicas e suas atitudes são passíveis de crítica, independente de gênero.

No mais, estamos diante de uma espiral negativa difícil de se compreender completamente. Resta-nos observar os fatos e tentar não tirar conclusões precipitadas.

Leonardo Thomé Pires

Coordenador Local dos Estudantes pela Liberdade no RS. Liberal, colorado e polemista. Nerd e gamer nas horas vagas.

2 comentários em “O panelaço machista da elite?

  1. Eu acho muito curiosas essas “acusações” de que as manifestações contra a Dilma são obra da elite. Independente de ser verdade ou não (e não creio que seja), por que ser de elite seria um demérito? Por acaso quem tem um bom padrão de vida não tem direito a opinião?

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