A greve dos caminhoneiros e a falência do sindicalismo monopolista

Hoje pela manhã ouvi no rádio uma entrevista de um dos líderes dos caminhoneiros, Ivar Schmidt, falando sobre a tentativa do governo de desmobilizar os caminhoneiros, cuja paralização já causa desabastecimento em diversos setores da economia.  Ontem à noite, durante reunião com os representantes do movimento e com os sindicatos, o governo federal avisou à imprensa que havia um consenso e que a paralização iria terminar. O que era, de fato, uma grande mentira.

No entanto, não foi isso que mais chamou minha atenção. O que realmente me fez pensar foi quando Ivar disse que o movimento foi todo organizado pela Internet, e que nenhum sindicato representa os caminhoneiros paralizados. Ele foi mais longe, e classificou os sindicalistas como “traidores dos caminhoneiros”, e disse que o sindicato não representa a categoria.

De fato, a boa parte dos sindicatos brasileiros está completamente desconectada dos anseios dos trabalhadores que eles deveriam representar. Os sindicatos, assim como os governos, não são instituições imaculadas, formadas por pessoas bondosas e preocupadas com os anseios de quem eles representam. Os sindicatos são formados por indivíduos normais. E como pessoas normais, eles sempre vão defender o seu interesse à frente do interesse dos outros.

Em muitos casos, o interesse dos sindicalistas é se manter no sindicato para não poder ser demitido. Em outros, é conseguir projeção para se alçar à carreira política. Outros realmente querem melhorar suas condições de trabalho. No entanto, uma coisa é certa: nenhum deles age devido à uma “consciência de classe”.  É importante que isto fique claro: classes são agrupamentos de indivíduos. Classes não se alimentam, classes não têm sombra, classes não pensam. Classes são entidades abstratas, isto é: criações da mente humana para agrupar elementos diferentes que tenham características em comum.

É lógico que, por terem características em comum, muitas vezes, os indivíduos que compõem uma classe podem agir de uma mesma forma, mas isto não necessariamente é verdade, como fica evidente no caso dos caminhoneiros. No entanto, a nossa legislação ignora estas diferenças. Oficialmente, só pode existir um sindicato por categoria em uma determinada região, e todos que tiverem carteira assinada nesta região são obrigados a pagar uma “contribuição” para o sindicato, que pode ser ainda maior se não registrarem formalmente sua oposição a uma segunda taxa a cada ano. Nos termos da nossa constituição:

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

II – é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior a área de um Município.

Se isto já seria uma arbitrariedade para alguém que trabalha sempre no mesmo local, para os caminhoneiros isto faz ainda menos sentido. Eles viajam de canto a canto do Brasil, mas são obrigados a se sindicalizar na cidade onde moram, a um sindicato que eles não podem escolher.

A consequência desta legislação está longe de ser a legitimação ou o fortalecimento os trabalhadores na “luta contra os patrões”. Na realidade, a única consequência disto é a deslegitimação e o enfraquecimento da oposição aos comandantes dos sindicatos, levando a uma crise de representatividade.

Não defendo o fim dos sindicatos. Pelo contrário, não há nada errado em criar associações e por meio delas empreender ações políticas. O errado é obrigar quem não concorda com uma entidade a associar-se a ela e, pior ainda, sustentá-la financeiramente. Precisamos falar seriamente sobre o fim da “contribuição” sindical obrigatória e do monopólio dos sindicatos e demais entidades de classe. Enquanto não houver concorrência entre sindicatos, ganham os sindicalistas, que mantêm seus privilégios e perde o trabalhador, que não encontra quem o represente.

Leonardo Thomé Pires

Coordenador Local dos Estudantes pela Liberdade no RS. Liberal, colorado e polemista. Nerd e gamer nas horas vagas.

3 comentários em “A greve dos caminhoneiros e a falência do sindicalismo monopolista

    1. Preciso preencher alguma coisa, ou necessitas apenas da autorização? Se é apenas pelo meu aceite, está autorizado. Inclusive coloquei uma nota no rodapé do site informando que todos os textos são licenciados como Creative Commons por Atribuição, ou seja: é só indicar o autor e publicar sem medo.

      Minha única recomendação é que me envie o link para eu guardar. 🙂

  1. A contribuição Sindical não é obrigatória. Ela pode ser retirada através de medidas legais, porém o trabalhador fica sem a representação da classe. Existem muitos sindicatos de caminhoneiros divididos por regiões, cada caminhoneiro assalariado pode escolher qual deseja se associar ou não se associar em nenhum.

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